Popularmente conhecido como “derrame”, em outubro é celebrado o dia Mundial do Acidente Vascular Cerebral (AVC). O mês é utilizado como referência para conscientização das formas de prevenção e fatores de risco do AVC. Ao Centro Integrado de Reabilitação, unidade vinculada à Secretaria Estadual de Saúde do Piauí (SESAPI), reforça o papel da abordagem com profissionais de diferentes áreas da saúde para a melhoria na qualidade de vida pós-AVC.
Para a enfermeira do Centro de Estudos e Pesquisa do Ceir, Fabiana Gomes, reconhecer os fatores de risco é a principal forma de prevenção do AVC. “Fatores como hipertensão arterial, diabetes, colesterol alto, doenças do coração que causam arritmias, tabagismo, sobrepeso e obesidade, sedentarismo, abuso de álcool e drogas. Estes fatores estão associados a 90% dos AVCS e são totalmente controláveis”, alerta.
Agir rápido no momento em que identificar alguém sofrendo AVC é essencial. “Os sinais mais comuns são perda de força de um lado do corpo, perda de equilíbrio; dificuldade para falar, a fala fica “pesada”; sorriso e face tortos. Podem ocorrer também dor de cabeça, descrita como a pior da vida que surge subitamente e visão turva. Ao reconhecer esses sinais, o SAMU deve ser acionado imediatamente para o atendimento correto. O tempo adequado é de até 4 horas após o reconhecimento desses sinais para que o tratamento possa ter os resultados esperados”, acrescenta Fabiana.
O cabeleireiro, Francisco Orlean, 50 anos, começou a sentir a cabeça pesada um dia antes de sofrer um AVC. “Uma dor de cabeça diferente mas pensava que fosse por conta do futebol. Falei para minha esposa, mas fomos dormir”, lembra.
Na manhã seguinte, ao levantar a dor de cabeça continuava e sua fala parou, seu braço também apresentou uma fraqueza que o impedia de movimentar com facilidade. Neste momento, a sua esposa percebeu a urgência e foram para o Hospital.
Francisco faz acompanhamento no Ceir há 2 anos para reabilitação após ter passado por dois episódios de AVC. “O maior desafio é voltar a ter mais independência. As sequelas comprometeram minha fala e não consigo sair sozinho ainda”, explica.
Com diferentes especialidades, Francisco evoluiu com a força tarefa da equipe multidisciplinar. “No começo, cheguei a ser acompanhado em cinco terapias. Atualmente, toda segunda-feira estou em três atendimentos que trabalham fortalecimento e fala. Sinto maior evolução com o trabalho na academia e o tratamento com a fonoaudióloga, para melhorar a minha fala”, avalia.
Durante uma viagem para Portugal em 2019, a professora universitária, Solange Lages começou a sentir fortes dores de cabeça e náuseas. Após perceber que a fraqueza e indisposição persistiram, decidiu antecipar a volta para Teresina. Assim que chegou, entrou em cirurgia no dia seguinte. Solange teve um Acidente Vascular Cerebral hemorrágico. Agora, com 3 anos no Ceir, Solange destaca os desafios e a importância das diferentes terapias no processo de reabilitação.
“O maior desafio foi perceber que tinha sequelas. Eu não tinha estabilidade no pescoço e meu lado esquerdo ficou muito sensível. Sentia muitas dores quando me tocavam. A gente nunca espera algo assim. Aqui é realmente um centro integrado que trabalha de forma multidisciplinar. A musicoterapia e a arteterapia, por exemplo, ajudam a gente a recuperar o ritmo. Na Terapia Ocupacional, a gente consegue trabalhar tarefas do dia a dia. Desde vestir uma roupa até usar uma colher”, comenta.
Acolhimento
No Ceir, a reabilitação engloba sempre uma avaliação global composta por diferentes profissionais que programam uma jornada terapêutica para cada paciente. Além da reabilitação física, as intervenções psicológicas ajudam a promover o bem-estar e contribuem na adaptação do paciente a sua nova realidade..
A neuropsicóloga e supervisora de psicologia do Ceir, Izabella Melo, explica que o apoio emocional e desenvolvimento da autonomia e da autoestima são pilares essenciais na adesão do paciente na reabilitação pós-AVC.
“Muitos pacientes enfrentam um choque emocional após o AVC, lidando com perdas físicas e cognitivas, além de mudanças em sua autonomia. É importante que exista um espaço seguro para que o paciente expresse suas angústias. Aqui no Ceir, a psicologia auxilia o paciente a redescobrir seu potencial e habilidades, fortalecendo a autoconfiança e a autoestima”, reforça.
Francisco destaca a importância da troca de experiências entre pacientes e terapeutas no Ceir. “Aqui todos nos tratam muito bem. Conviver com outras pessoas que possuem vivências parecidas melhora nossa compreensão e a gratidão, o que deixa todo o processo de reabilitação mais leve”, celebra.
Além do trabalho psicomotor, Solange Lages destaca a preocupação com os aspectos cognitivos e afetivos em todo o processo. “Aqui os profissionais são treinados para fazer um bom acolhimento. Seja qual for a terapia, eles sempre motivam você. Eu saio com minhas amigas, saio com meu filho para cinema, para um café. Eu faço isso e me sinto viva. Estou me divertindo. Aqui eles incentivam a mantermos a nossa vida social ativa”, comemora.
Com 66 anos, agora a professora planeja um futuro onde dançar esteja presente.“Eu era coordenadora do grupo de dança da UESPI. Eu quero voltar a fazer algo voltado à dança, com movimento e música. Eu vou dançar agora diferente, do jeito que eu estou”, conclui.
Pense Bem AVC
O Projeto Pense Bem AVC atua por meio de práticas educativas que visam alertar e sensibilizar a população para o autocuidado com a saúde, com foco na prevenção e controle dos fatores de risco para o Acidente Vascular Cerebral (AVC). É constituído por uma equipe de profissionais da Associação Reabilitar e conta com o apoio de acadêmicos voluntários da área da saúde.
Fabiana Gomes também participa do Projeto e leva informações essenciais direto para comunidade, por meio de palestras e rodas de conversa. “O Projeto Pense Bem AVC tem salvado vidas por meio das palestras e eventos que levam conhecimento e despertam as pessoas para prevenir o AVC. A prevenção sempre é o melhor remédio para qualquer doença”, explica.
O termo Pense Bem foi primeiramente utilizado pela Sociedade Brasileira de Neurocirurgia (SBN), que inspirado no “Think First”, um programa americano de educação em saúde, elaborou um programa de educação totalmente adaptado à realidade brasileira, no qual abordava temas como a prevenção dos neurotraumas, as doenças cerebrovasculares e as degenerativas da coluna vertebral. Seguindo os mesmos ideais do Projeto Pense Bem desenvolvido pela SBN, a Associação Reabilitar iniciou o Projeto Pense Bem AVC em Teresina, no ano de 2007, com o objetivo de atuar mais fortemente na geração de ações com impacto local e na busca de resultado coletivo em saúde, através de práticas educativas.
O projeto tem percorrido instituições de ensino, serviços de saúde, empresas, associações comunitárias, entre outros; além de participar e promover eventos com a finalidade de atingir a comunidade em geral e agregar parceiros.
Para solicitar uma palestra ou obter mais informações sobre o Projeto Pense Bem AVC, ligue para (86) 3232-0353, ramais 118 e 129.